Resolvemos fazer este post como um informativo para outros pousadeiros e comerciantes que possuam contas no banco Bradesco. Atentem pois há um novo golpe sendo aplicado por diversos estelionatários com base em uma falha no sistema do banco. Já tentaram aplicar o mesmo golpe aqui no Terra Patris! por mais de uma vez.

Como funciona o novo golpe

A princípio, parece uma reserva normal. A pessoa liga no telefone da pousada ou manda um e-mail solicitando orçamento para um período de estadia longo ou em datas comemorativas. No contato, quase não se fala de Barra Grande ou da localidade, são feitas perguntas padrão para um hotel (como estrutura dos quartos, valor da diária, formas de pagamento) e muitas vezes até tentam negociar um desconto no valor da estadia. Porém, ao solicitar a reserva, os estelionatários sempre pedem que seja informada uma conta no banco Bradesco. A justificativa é que a empresa que fará a transferência bancária só trabalha com este banco, portanto isso seria um facilitador para a confirmação da reserva.

Seguindo os procedimentos normais da reserva, são enviados os dados bancários Bradesco via e-mail. No mesmo dia recebe-se um e-mail com um anexo. Este anexo geralmente é um comprovante de transferência do mesmo banco em formato jpg, aparentemente verdadeiro. Porém, uma única informação chama atenção: o valor transferido, sempre muito maior que o valor acordado por telefone ou e-mail.

Em seguida, o estelionatário liga para dizer que foi feita uma transferência com o valor errado por um funcionário e pede para que você confirme na conta se já caiu. Como sistema do Bradesco não difere no saldo atual qual o valor que está bloqueado, o valor já aparece no seu saldo, como se a transferência tivesse sido realizada e o dinheiro já estivesse disponível em sua conta. Na mesma hora, ele pede que a diferença seja devolvida para a mesma conta da transferência, que está no comprovante enviado por e-mail. Assim que o pousadeiro faz a transferência por pura honestidade, o interessado some assim como o depósito/transferência que havia sido realizado: era uma fraude.

Como agimos diante da tentativa de golpe

Quando aconteceu com a nossa pousada, achei tudo muito estranho logo de cara, pois o erro do valor era muito alto (mais de R$ 10.000 a mais que o valor acordado), o que me deixou com o pé atrás. Como pode alguém errar o valor em uma transação tão alta? Pedi ao então suposto cliente que esperasse eu verificar com o banco, já que não tinha como fazer a transferência online.

Primeiro, tentei entrar em contato com o 0800 do banco, mas incrivelmente não obtive ajuda do atendente. Comecei a observar mais atentamente as informações no site e buscar qual seria meu saldo atualizado, quando consegui ver que um depósito no valor de R$ 12 mil não havia sido liberado ainda. Foi aí que peguei um detalhe essencial: mas ele não havia feito uma transferência entre contas (que cairia automaticamente na mesma hora, sem necessidade de liberação)? Então tive a certeza que estavam tentando aplicar um golpe.

O próximo passo foi conferir o comprovante enviado e, com um pouco de atenção nos detalhes do documento, percebi que era falso: ao compará-lo com um comprovante original, vê-se claramente que há edição nos dados e alteração de fontes. Além disso, notei que era um comprovante de conta do Bradesco Empresas (somente para pessoas jurídicas) e as informações serem de uma conta de pessoa física, com CPF.

Para garantir, resolvi buscar outros casos parecidos com isso na internet e encontrei diversas notícias e casos, que ocorreram com os mais variados tipos de comércio. Era o que faltava para ter certeza da tentativa de golpe.

Obviamente, não fiz a devolução solicitada e nem entrei em contato com o estelionatário; simplesmente aguardei que ele me contactasse novamente, pois tinha certeza que o faria.

No dia seguinte, logo pela manhã, ele ligou novamente, cobrando a devolução. Apenas comuniquei que não havia sido feita nenhuma transferência no valor informado e  que o depósito realizado ainda estava bloqueado, tudo com muita calma e ironia. Ele continuava a insistir que havia feito uma transferência direta entre contas Bradesco e garantia que o dinheiro deveria estar em minha conta. Continuei negando pacientemente. Para acabar com a conversa, sugeri que ele entrasse em contato com o banco para verificar o ocorrido e nos retornasse o quanto antes, garantindo que devolveríamos o valor depositado caso fosse confirmado o erro. Nem preciso dizer que ele nunca mais entrou em contato.

Só dois dias depois o valor de R$ 12 mil foi estornado de nossa conta, com o motivo “devolução de cheque por motivo de roubo”. Aí ficou claro como funciona o processo de fraude: a pessoa faz a reserva pelo telefone, pega seus dados bancários e passa para outra pessoa. Essa pessoa vai ao banco e efetua um depósito falso no caixa eletrônico. Esse depósito pode ser feito com um cheque sem fundos ou roubado ou até mesmo com um envelope vazio. O banco tem um prazo de 48 horas para conferir o envelope e liberar o depósito em sua conta. É com base nesse tempo de espera que o banco tem para confirmar o depósito e na sua honestidade que os estelionatários aplicam o golpe.

Pior de tudo, como foi feito um depósito de cheque roubado, ainda poderíamos ter sido processados por este depósito em nossa conta. O mais correto nessa situação é ir à delegacia mais próxima e fazer um Boletim de Ocorrência, para se proteger de qualquer problema. Ainda bem que não acabamos lesados com toda essa história!

Como se proteger dessas fraudes

Com um pouco de atenção aos detalhes, é possível escapar facilmente desta situação.

Nossa dica principal para estes casos é: sempre desconfie! Nunca tome atitudes precipitadas, sempre verifique com todas as fontes possíveis, para ter certeza que não está sendo vítima de um golpe.

Depois desta tentativa, já pudemos identificar duas outras tentativas de golpe, que não chegaram a ir tão longe pois deixamos claro que a reserva só é confirmada após a confirmação do depósito pela instituição bancária.

Uma boa notícia: o site do Bradesco passou a exibir mais claramente o valor liberado e bloqueado do saldo, o que deve facilitar a identificação do depósito em outras tentativas de golpe. Mas não custa ficar atento, mesmo que você tenha conta em outros bancos. Os estelionatários são sempre agéis em se tratando de aplicar novos golpes contra os desavisados.

Listamos algumas atitudes suspeitas a desconfiar no caso de uma reserva:

• A reserva geralmente não é feita pela pessoa que irá se hospedar, mas sim por um dito funcionário ou secretária.
• Geralmente eles fazem a reserva em nome de um “doutor” ou “advogado” ou de alguma empresa, como uma transportadora, provavelmente para ter mais respaldo. Os emails informados sempre contém essas informações, mas sempre são de contas de e-mail gratuitas como hotmail ou gmail.
• Quando não há vaga na primeira data escolhida, a pessoa rapidamente muda de período de interesse.
• Não são feitas perguntas de como chegar no local, nem sobre a localização da pousada. Quando perguntados se necessitam de ajuda para chegar, dizem não precisar, apesar do número de telefone informado ser de outro estado (conosco foram dos estados do Mato Grosso e Minas Gerais).
• Sempre insistem em fazer o depósito em uma conta no Banco Bradesco, que era o banco que não exibia as informações de saldo liberado e bloqueado.

Outros tipos de golpe contra pousadas

Ao escrever esse post, me lembrei de outra tentativa de golpe que tentaram nos primeiros anos da pousada, esta um pouco mais sofisticada.

Recebe-se um email, geralmente em inglês, solicitando hospedagem para um longo período e para diversos quartos. A justificativa pode ser uma reunião de negócios, um casamento ou uma viagem em família. Até aí, tudo normal.

Após enviar a proposta de hospedagem, o falso cliente responde aceitando a mesma, mas pede que a pousada fique responsável por fazer um pagamento à uma certa agência de viagens, que ficará responsável pelo transporte dos hóspedes. Essa agência não aceita cartões de crédito, portanto o cliente pede que a pousada faça a cobrança e repasse em seguida para a agência. Para tornar a proposta atrativa, o falso cliente diz que a pousada pode cobrar a comissão que for necessária para cobrir seus custos e também lucrar um pouco. Ele diz que enviará (ou até mesmo já envia) os dados do cartão para que seja feita a cobrança.

O que você não sabe é que provavelmente o cartão é roubado. Ao fazer a transação na sua máquina, ela é aceita, pois os dados são verdadeiros. Mas para receber o valor, provavelmente você terá problemas, pois o dono do cartão poderá cancelá-lo após verificar o roubo de suas informações. Nessa hora, você já fez a transferência de valores para a agência e... caiu no golpe!

A dica nos casos destas tentativas de golpe é nem responder aos emails, simplesmente ignore-os. Muitas vezes, o próprio e-mail é uma tentativa de phising, ou seja, o golpista tenta inserir um código malicioso na sua máquina e, ao responder, ele consegue fazê-lo.

Listamos também algumas dicas para identificar estes golpes internacionais:

• Os emails nunca citam a sua localização. Quase sempre dizem ser em sua cidade (city) ou localidade (location). Muitos nem ao menos citam o país.
• Os emails já vem com os nomes das pessoas a serem hospedadas. E sempre na fórmula: Mr and Mrs Smith, indicando ser um casal.
• A ocasião quase sempre é um casamento ou reunião de negócios. Se este não for o seu tipo de público ou se você não souber de nenhum evento que ocorrerá nas proximidades da sua pousada, desconfie.
• Alguns emails já citam a necessidade de pagamento a uma agência logo no primeiro email de contato. Aí tá fácil: nem responda.
• Em alguns emails é possível perceber erros grosseiros na língua inglesa, indicando que quem o escreveu não é nativo da língua.

Considerações Finais

Comerciantes e pousadeiros, tomem cuidado ao verificar depósitos no banco! Só confirmem a venda ou reserva após a confirmação do depósito pelo banco. Para consultar corretamente no Internet Banking, procure pelo saldo disponível e saldo bloqueado. Está bloqueado? Aguarde a compensação bancária para tomar qualquer providência com relação a venda! E nunca, mas nunca mesmo, aceite passar o valor referente a outros serviços (que não oferecidos por sua empresa) em sua máquina de cartão. A venda digitada é altamente não recomendada inclusive por bancos, pois no caso de contestação da venda pelo dono do cartão, a empresa sempre leva o prejuízo. Todo cuidado é pouco.

Atualização deste post em Julho/2014:

O golpe continua sendo aplicado e já ouvimos o relato de outras pousadas sobre a mesma história. Felizmente, o banco Bradesco corrigiu o erro que mostrava o saldo bloqueado como disponível na primeira página do Internet Banking, tornando a ação dos criminosos mais difícil. Mas não custa prestar atenção!