Acordamos cedo para o café da manhã e já encontramos o guia Aguinaldo. Infelizmente ele não havia passado bem durante a noite e resolveu passar o nosso passeio para outro guia, o Azenaldo. Além de guia, o Azenaldo é brigadista no Parque Nacional da Serra das Confusões. Segundo ele, ainda há muitos incêndios devido às famílias que vivem dentro do parque. Combinamos com ele o roteiro rapidamente e seguimos para o parque.
Caminho até o Parque Nacional
De Caracol até o parque são uns 18 km de terra pela PI-470, que leva ao povoado de Guaribas. A estrada estava bem judiada devido a época de chuvas, mas não foi necessário usar o 4x4. Segundo o guia, a maioria dos carros de passeio chega até o centro de visitantes do Parque. A entrada para o parque está marcada na estrada com uma placa, para seguir à direita. Mais uma vez é extremamente necessário ir ao Parque com guia. Além de conhecer mais a história do local, você não corre o risco de se perder, até porque o parque ainda não está totalmente organizado para receber turistas. Outra vantagem é contribuir socialmente com a região, já que os guias são todos locais e conhecedores do Parque como ninguém.
O PN Serra das Confusões
Chegando no centro de visitantes, já é possível perceber os primeiros investimentos do grupo de italianos no parque. Além da guarita (ainda não é cobrada nenhuma taxa, mas em breve será), há um pequeno museu (ainda não está completo, mas a estrutura já montada é criativa e surpreendente) e um auditório, já pronto para palestras. Uma lanchonete também está em montagem, para receber bem o turista.
Passeios no Parque
Atualmente, são apenas 2 passeios catalogados no parque. Em ambos é necessário estar acompanhado de um guia.
Atenção: não há guias no parque, apenas um vigia. É necessário agendar previamente seu passeio em Caracol.
Trilha das Andorinhas
Fizemos logo o primeiro trecho: após um trecho de 2 km com o carro pela areia fofa (possível de ir a pé, caso prefira), chega-se ao estacionamento que leva a trilha para Andorinhas, área dos cânions mais próxima. Uma caminhada de cerca de 30 minutos passa por paisagens surpreendentes no meio das formações rochosas.
Aqui na Serra das Confusões as pedras parecem mudar de cor de acordo com a incidência dos raios solares, por isso o nome foi dado pelos antigos moradores daqui. As pedras parecem ter listras, muito diferentes das encontradas na Serra da Capivara.
A trilha ainda é bem rústica e não parece ter muitos visitantes passando por lá, o que dá ainda mais charme ao local. Segundo o Azenaldo, o plano é continuar a trilha pela serra, voltando ao ponto de estacionamento sem ter que passar pelo mesmo caminho, como fizemos. Ele parecia bem animado com o trabalho do grupo de italianos por aqui. É uma pena que no Brasil os governantes não deem o devido valor para nossos parques. Ainda bem que há outras nacionalidades interessadas e, pelo o que escutamos por aqui, todos estão bem animados com as mudanças que vem por aí.
Gruta Riacho dos Bois
Em seguida, voltamos para o centro de visitantes e seguimos na estrada de areia para a principal atração do parque: a gruta Riacho dos Bois. São cerca de 2 km pela estrada de areia e um trecho de estrada construída com pedras, para facilitar o acesso.
Única gruta encontrada nas Serras daqui, o acesso a pé é feito pelas rochas, com o guia indicando o caminho. De repente, há uma escada de metal para ajudar na descida do cânion e chegamos à entrada da caverna. São dois enormes paredões que parecem se sustentar um apoiando o outro, com uma enorme fenda para a passagem.
Andamos em direção ao fundo da gruta, passando por trechos mais apertados, áreas com pedras que caíram dos paredões, mas a grande parte do roteiro é feita caminhando em uma areia fofa, de fundo de rio. Aqui, as paredes funcionam como filtros naturais e água escorre por elas, independente do clima. Ali é muito úmido e nem sentimos que estamos no meio da caatinga. Na época de chuvas, segundo Azenaldo, a água desce com força ali formando uma correnteza até a estrada, o que impede a visitação da gruta. No final, chega-se a um clarão, cheio de plantas e bem úmido. O Azenaldo diz que há uma passagem para seguir em frente, mas dali é necessário rastejar, ou seja, fim de tour para nós turistas!
A caminhada gruta adentro dura cerca de meia hora (mais meia hora para voltar). A lanterna é necessária para alguns trechos, mas todo o roteiro conta com pequenas fendas no alto dos paredões, que deixa passar a luz do sol. Nosso guia nem usou lanterna!
A volta para o carro é tranquila, mas o sol escaldante do Piauí que tomamos na cabeça durante a pequena subida de volta ao carro nos deixa mais ofegantes, mas felizes em ter passado algumas horas conhecendo o parque.
Aventura no caminho para Cristino Castro
Voltamos ao centro de visitantes para deixar o guia e pegar o caminho rumo a Guaribas, onde pretendíamos parar para o almoço, seguindo as dicas dadas pelo Aguinaldo. Mas, ao conversar com o vigia e com o nosso guia Azenaldo, acabamos decidindo atravessar o parque. Eles nos convenceram que era possível passar com o 4x4 tranquilamente, além de economizarmos mais de 50 km na estrada de terra até Santa Luz, que está muito danificada devido às chuvas que passaram recentemente. Até um mapinha com os vilarejos onde passaríamos e deveríamos pedir informação eles fizeram! Estimamos uma viagem entre 3 e 4 horas, mas pensando no visual, criamos coragem e fomos.
Marco foi dirigindo quase todo o percurso, que foi de muita aventura! O areial que tanto temíamos foi a parte mais tranquila: só ligando o 4x4 e mantendo a velocidade, passamos facilmente. A parte de terra (uma terra vermelha, meio barrenta devido ao acúmulo de água da chuva) se mostrou bem mais difícil do que pensávamos, com subidas cheias de sulcos cavados pela água. Ficamos com medo de virar o carro nestes trechos, mas o Jimny se mostrou bem mais forte e preparado do que nossa imaginação.
A velocidade que conseguíamos chegar era bem baixa, pois estávamos com medo de acontecer alguma coisa alí, no meio do parque, onde não teríamos como pedir socorro. Foi bem tenso! Quando avistamos a portaria do parque foi um alívio. Estávamos no caminho certo!
O Google Maps também nos auxiliou bastante: apesar de não mostrar a estrada, dava pra ver que estávamos seguindo sentido Cristino Castro. Quando chegamos ao povoado de Japecanga, trocamos lugar na direção. A estrada até a BR-135 parecia próxima, mas parecia que não saímos do lugar. A terra também continua ruim, um pouco melhor que dentro do parque, mas ainda demandava muita atenção. Quando finalmente avistamos a BR foi uma comemoração, ainda maior depois que prestamos atenção na paisagem. A serra continua por aqui e o pôr do sol atrás de uma das formoções fechou nosso dia de aventura com chave de ouro.
Chegando no próximo destino: Cristino Castro
Uns 10 km depois, chegamos em Cristino Castro e encontramos o Gurguéia Park Hotel, recomendado por um casal que se hospedou na pousada. O hotel impressiona de cara, depois de termos passado por várias pousadas bem simples na beira da BR. Ao entrarmos, conhecemos a Amanda, filha do proprietário, formada em Turismo em Santa Catarina. Conversamos sobre o turismo na região e nos impressionamos com a quantidade de possibilidades que ela mapeou na região no seu trabalho de conclusão de curso. O plano era irmos diretamente para Carolina amanhã, mas com tanto cansaço pós viagem, resolvemos ficar mais um dia aqui e tentar conhecer algumas das coisas que ela nos contou. Esse Piauí só está nos trazendo surpresas!
Jantamos no restaurante do hotel mesmo. Uma picanha de sol (sim é possível fazer carne de sol com qualquer corte) na chapa com queijo coalho e abacaxi, sabores da região! Na viagem estamos comendo muita carne, pois é o que há de mais tradicional por aqui. Ainda não tivemos coragem de provar o bode, vamos ver se até o fim da viagem rola!
Guia Rápido
Contatos:
Em Caracol:
Guia Aguinaldo - tel: (89) 8107-5420
Guia Azenaldo - tel: (89) 8118-4153
Miltinho (coordenador do parque - também possui uma pousada em sua casa) - tel: (89) 3589-1208
Portal do Parque Hotel - (89) 8103-5457
Em Cristino Castro:
Hotel Gurguéia Park - www.gurgueiaparkhotel.com.br - (89) 3563-1280