A viagem com os cachorros

A gente sempre pensa que, quando antecipamos as coisas, a probabilidade de acontecer alguma coisa errada é mínima.

 

Pois eu estava pensando assim quando, um mês atrás, fiz as reservas para enviar os cachorros de Campinas para Barra Grande.

Sabia que a data ideal para fazer essa “saga” seria por volta do dia 07 de junho, então, um mês antes, estava eu ao telefone com a TAM, Gol, Azul e qualquer outra possibilidade que pudesse aparecer, tentando negociar a melhor maneira (entenda-se: mais rápida, barata e segura) de enviar Tom e Lisa para a nova morada.

 

As variáveis faziam parte desta equação mais difícil que uma derivada tripla: o tamanho do kennel (ou caixa de transporte), o peso dos cachorros, o horário de saída e chegada do vôo, o número de escalas e conexões, se iríamos para Fortaleza ou Teresina, se era possível enviar os dois no mesmo vôo... Além do custo.

 

Muitas discussões depois, possibilidades analisadas e cotações, resolvemos adotar a única opção que parecia viável: o Tom teria que ser enviado como carga, já que as dimensões do kennel dele eram superiores às permitidas para envio como bagagem, e a Lisa iria no mesmo vôo que eu, despachada como bagagem.

 

A única companhia aérea que tinha vôos coordenados (no mesmo horário) era a TAM e o destino teria que ser Fortaleza. Assim, fiz as reservas pelo telefone e me informaram que, como estava adiantada à data da viagem, eles me responderiam em até duas semanas, confirmando ou negando o embarque dos cachorros.

 

Duas semanas depois, recebi uma ligação da TAM Cargo (que levaria o Tom) confirmando a reserva dele. Ufa! Menos um, pensei.

 

Nesse ponto, já estávamos no meio da viagem pelo Nordeste. Resolvi começar a contactar a TAM para checar a reserva da Lisa, mas só recebia a resposta que o pedido estava “em análise” e que “continuasse ligando para saber do status”. Foi o que fiz nas duas semanas seguintes: ligava a cada três dias e, na última semana, cheguei a ligar todos os dias.

 

E a resposta se mantinha, complementada pelo fato que o atendimento da TAM alegava ter até 3 horas antes do vôo para confirmar a reserva da Lisa. Absurdo, mas, regras são regras.

 

No fundo, acreditava que era só uma desorganização e que no final daria tudo certo.

 

Quando chegou o dia anterior à viagem, liguei novamente, ainda com muita esperança que daria tudo certo. Engano meu. Ao verificar a solicitação, a atendente da TAM confirmou a negativa.

 

Minha reação foi a pior possível, nervosa e impaciente.

 

Disse que não desligaria enquanto não fosse resolvido meu problema: preciso enviar o cachorro no dia 07 e preciso chegar em Fortaleza antes das 13h, senão não conseguiríamos chegar em Barra Grande no mesmo dia.

 

Depois de muita espera e conversa, consegui fazer outra reserva, em um vôo um pouco mais cedo, mas com mais escalas (quatro, para ser precisa). Mas mesmo assim não tinha confirmação da Lisa. A atendente sugeriu que eu esperasse algumas horas e entrasse em contato novamente com a TAM. Foi o que fiz. E nada. Fiz o contato três vezes e o status ainda estava em análise.

 

Quando liguei a última vez, por volta das 21h do dia 06, o atendente me informou que todas as escalas haviam confirmado o embarque, com excessão de Viracopos, o aeroporto de origem. Me sugeriu que chegasse ao aeroporto mais cedo e tentasse conversar. Como eu já tinha que chegar cedo para despachar o Tom (às 3h30 da manhã), resolvi arriscar e tentar.

 

Nem dormi à noite... Foi um cochilo de duas horas no sofá e já tinha que levantar e ir ao aeroporto. Chegando lá, fomos primeiro à TAM Cargo, preparei o kennel do Tom, dei o tranquilizante recomendado pelo veterinário e o despachei, com o coração na mão ao ouvir o choro dele dentro da caixa. Mas, com relação à burocracia, foi tudo simples e rápido. Já corri para o saguão do aeroporto, pois sabia que estava em cima da hora para tentar resolver o caso da Lisa.

 

Chegando ao check-in da TAM às 4 horas da manhã, surpresa: quem disse que estava aberto? Além de algumas pessoas aguardando a abertura dos check-ins, não havia sinal de funcionários. Isso que me mandaram chegar antes da 4 horas... Não sei porque, já que estava tudo fechado. Como não tinha mais nada a fazer, iniciei a fila e aguardei. Eu, minha mãe, Lisa e um copo de café...

 

O check-in só abriu por volta das 4h30 da manhã. Fui a primeira a ser atendida e expliquei meu caso à atendente da TAM. Ela checou e realmente faltava a liberação de Viracopos, que só poderia ser obtida pelo supervisor, que estranhamente só iniciava os trabalhos às 5h da manhã. Me pediu que aguardasse ao lado e que, assim que o supervisor chegasse, ela me atenderia à frente dos demais da fila. Sem alternativa, fiquei aguardando.

 

Cinco horas e nada do supervisor. A todo momento perguntava dele, ela checava no rádio e ele nada. Não entendo como alguém pode ter o cargo de supervisor e não cumprir com a mínima obrigação que é o horário de trabalho.

 

O tempo ia passando e as minhas esperanças também: quase 5h30 da manhã e nada resolvido, meu vôo saía às 6h. Foi quando a atendente teve um momento de pró-atividade e resolveu fazer alguma coisa. Quando voltou, já estava correndo, dizendo que deveríamos ser rápidos para conseguir pegar o vôo. Aleluia!

 

Na correria, despachei a Lisa e minhas malas, fui à loja da TAM efetuar o pagamento e saí correndo para o embarque. Lei de Murphy: encanaram com as coleiras dos cachorros na minha mochila passando pelo Raio X. No final, fui liberada, e quando entrei na área de embarque, já estavam chamando meu nome. Correndo, consegui pegar o vôo. Ufa!

 

O vôo foi longo e cansativo, a cada aterissagem nas escalas eu sentia meu estômago mal e lembrava da coitadinha da Lisa no porão, que deveria estar aterrorizada. Além de ter que subir e descer quatro vezes, o piloto parecia fazer questão de jogar o avião no chão, sem a mínima técnica de pouso. Entre uma parada e outra, atualizava o status da viagem no facebook, onde parecia que tinha um milhão de seguidores torcendo pelo sucesso desta empreitada.

 

Chegamos em Fortaleza no horário programado e corri para a esteira para salvar a coitada do inferno que deve ter sido aquele vôo. Por sorte, ela logo apareceu. Assustada, agitada, mal consegui colocá-la no carrinho junto com as malas. Liguei para o Marco e ele já estava com o Tom, são e salvo também, mas meio dopado ainda. Logo ele chegou e carregamos o carro, sendo que ainda tínhamos 5 horas de estrada pela frente.

 

Um pouco difícil sair de Fortaleza, mas depois de uma ajudinha do GPS conseguimos. Os cachorros pareciam aliviados em nos encontrar depois da aventura e não deram trabalho algum durante a viagem de carro. Ficaram calmos, dormiram e nem sabiam o que os esperava quando chegássemos.

 

Chegamos em Barra Grande no início da noite, o que não é muito recomendável pelos animais soltos na estrada: vacas, bodes, jegues, cachorros... Tem de tudo o que você imaginar. Mas chegamos bem e os cachorros também! A casa alugada é ótima, tem espaço de sobra para eles e está pertinho da praia. Pena que eles só vão conhecê-la amanhã...