Acordamos cedinho para fazer um dos passeios mais tradicionais dos Lençóis Maranhenses: o passeio de barco pelo Rio Preguiças! O Rio Preguiças é um enorme rio que circunda o deserto de areia dos Lençóis, banhando diversas comunidades ribeirinhas pelo caminho, até chegar no mar. É um passeio muito tradicional em Barreirinhas, que tem o privilégio de ser banhada por este rio e aproveita todo o seu potencial turístico ao redor, com diversas opções de hotéis, restaurantes e bares para o turista, além de concentrar a maior parte da agências de turismo dos Lençóis.
O Passeio pelo Rio Preguiças
O passeio tem o ponto de partida na beira rio, próximo aos restaurantes. Como nós optamos pelo passeio oferecido pelo Hotel em que estávamos hospedados, foi ainda mais fácil: o barco sai do cais nos fundos do hotel mesmo, próximo do café da manhã. Acho que essa é a primeira dica em Barreirinhas: tente conseguir os passeios com o hotel em que estiver hospedado, o valor é bem melhor se comparado com os passeios oferecidos pela cidade (principalmente na alta temporada!). Também já combinamos de antemão com o Gerson, dono do hotel e piloto da nossa voadeira (nome que os locais dão à pequena lancha), que queríamos terminar o dia em Atins, sem necessidade de voltar com o barco para Barreirinhas com o resto do grupo.
O passeio começa tranquilo margeando a cidade de Barreirinhas que fica na beira do rio. Uma grande duna protege a única prainha da cidade, um dos poucos locais sem construções que encontramos por aqui hoje em dia. Grande parte da beira rio é tomada de mansões e hotéis - resort. Após um tempo, a paisagem começa a ficar mais natural: muitos pés de juçara (como eles chamam por aqui o famoso açaí) e buriti em mistura com a vegetação nativa de mata ciliar. A mata ao redor do rio é tão densa que não parece que estamos tão próximos de um deserto tão grande como os Lençóis Maranhenses. Durante o trajeto, Gerson foi contando-nos histórias sobre como alguns igarapés foram abertos por pescadores.
Vassouras
Chegando na comunidade de Vassouras, uma enorme duna nos recebe, lembrando que sim, estamos nos Lençóis! A parada é estratégica no local: apenas um bar/restaurante na beira do rio, cheio de macacos que vivem na mata próxima. Eles brincam, pulam, roubam objetos e comida dos turistas desavisados. E são muitos! Passamos ali um tempo fotografando os macacos e logo seguimos para as dunas, que ficam atrás do restaurante.
Com uma pequena caminhada se chega ao topo, onde é possível avistar as últimas dunas dos Pequenos Lençóis. Últimas, porque elas iniciam lá no Delta do Parnaíba, divisa do Piauí com o Maranhão, local que já comentamos nos nossos antigos posts. O vento, que sopra também de leste a oeste, traz a areia e movimenta as dunas. Ou seja, cada vez que visitar os Lençóis, eles sempre estarão diferentes! Custamos a acreditar que este lugar realmente exista e esteja tão perto de nós... Caminhamos um pouco pelas dunas, descobrindo pequenas lagoas de água doce, tirando fotos. Depois retornamos ao restaurante e seguimos viagem com o grupo.
Mandacaru
A próxima parada foi no povoado de Mandacaru, onde fica o farol de mesmo nome. Logo na chegada, nativos já vendem produtos artesanais locais, desde rendas e produtos feitos com palha de buriti até cachaças feitas com frutas locais. Uma pequena caminhada de uns 5 minutos leva até o farol, acessível por uma escada em caracol de 160 degraus. Mas vale a subida: a vista panorâmica do rio, mar e dos Pequenos e Grandes Lençóis é única. O farol, propriedade da Marinha do Brasil, foi erguido em 1940 e não cobra entrada para os turistas.
Caburé
Então é hora de seguir para Caburé, o ponto final do passeio do Rio Preguiças tradicional. A programação normal é a parada em um dos restaurantes para almoço. Como os pratos demoram, o recomendado é pedir algo e explorar a área.
Caburé é uma vila de pescadores, mas atualmente está bem mais preparada para o turismo, em comparação ao que escutamos anteriormente. A cerca de 4 anos atrás, quando nos mudamos para Barra Grande, um casal de amigos se hospedou na vila e havia nos contado que era um local bem pacato, onde apenas os nativos ali viviam e ofereciam hospedagem e refeições aos turistas. O que nos espantou foi a quantidade de restaurantes espalhados pela orla do rio. Subindo as dunas, é possível chegar a outras opções de restaurantes (os dos nativos), com preços bem mais em conta, além de estar do lado do mar. Também é possível fazer passeios de quadriciclo (há diversos pontos de aluguel em Caburé). Vimos muitas pessoas vindo de quadriciclo para passeios também, estes vindos de outros povoados, como Tutóia. Ou, pra quem cansou de tanto passeio, basta sentar no bar e tomar uma cervejinha (foi o que optamos).
Estávamos muito ansiosos para ir para Atins. Até tentamos convencer o piloto a nos levar logo, mas existe um horário combinado, pois o barco que vai para Atins já vai com intuito de trazer pessoas de lá voltando para Barreirinhas. Resolvemos almoçar no restaurante recomendado mesmo. A comida estava muito boa e bem servida!
Atins
Logo após o almoço, um dos muitos pilotos que ali param já começa a chamar as pessoas que irão a Atins. É uma espécie de acordo entre os pilotos, assim só vai a quantidade de barcos necessária para Atins e nem todos precisam se deslocar. O trajeto é rápido, pois Caburé e Atins são apenas separados pelo Rio Preguiças.
Chegamos do outro lado do rio e, por coincidência, encontramos a Carmen, da Agência Terra Nordeste, que havia nos visitado recentemente em Barra Grande. Ela estava aguardando um casal que estava no mesmo barco e nos ofereceu uma carona até a pousada deles, a Pousada do Irmão. Como não conhecíamos nada (e nem tínhamos pousada reservada), acabamos indo com eles. A carona seria dispensável, descobrimos depois, pois a vila é bem pequena, principalmente a área onde ficam as pousadas. Nem 3 minutos depois, paramos em frente à Pousada do Irmão. Conhecemos o quarto e ficamos com um por 2 noites, um ótimo custo benefício (ainda aceita cartão!). Aliás, uma surpresa nos Lençóis: há pousadas com ótimos preços e estrutura, se formos analisar o local afastado em que estamos.
Deixamos nossas coisas na pousada e corremos pra conhecer a praia. Uma pequena caminhada de uns 10 minutos (mais pela volta na rua de areia fofa do que por distância) e estávamos na praia. O visual é deslumbrante: a maré estava baixa e pequenos lagos se formavam, assim como um braço de água. Cenário perfeito para o kitesurf! Foi nesse momento que arrependemos de não ter trazido nosso equipamento. O vento estava brando, mas com um kite 10 ou 12 já seria possível velejar. Com certeza em breve vai virar um kitespot disputado!
A praia conta com algumas poucas barracas, mostrando que o forte por aqui não é passar o dia na praia. Há muitos passeios aqui, pelas dunas, pela praia, pelo rio... as pessoas quase não querem passar o dia na praia. Encontramos uma barraca bem simples, mas cheia de detalhes, mais no final da praia e lá fomos pegar o pôr do sol. Conhecemos os donos, um casal que por coincidência conhece diversos amigos nossos de Barra Grande. Lá ficamos até tarde, tomando uma cerveja e conversando sobre Atins. Descobrimos que ali é a barraca da galera do kite, mas que enquanto a temporada não chega, a maior parte dos frequentadores é o pessoal que ali vive, assim como nós vivemos do turismo em Barra.
Voltamos para a pousada, para um banho rápido e procurar algo para jantar. Sorte a nossa que foi rápido, pois o que não sabíamos é que os restaurantes em Atins fecham bem cedo. E quando dizemos cedo, é muito cedo mesmo: 21 horas estava praticamente tudo encerrado. Sorte que conseguimos convencer a cozinheira da Pousada do Irmão a nos fazer um prato rápido, senão teríamos ficado sem jantar. Essa foi pra gente aprender!
Cansados do dia, fomos dormir. Amanhã queremos explorar a vila e as dunas, para então comer o tão famoso camarão do Canto do Atins!