Um (bom) exemplo de trabalho em equipe!

Era uma sexta-feira do começo de Agosto, um dia como qualquer outro. Aquele vento gostoso da manhã, muito sol. E com a pousada cheia, o café da manhã sendo servido na oca, MPB ao fundo. Tudo parecia normal. Até  uma das vizinhas aparecer correndo, gritando que o fogo estava tomando conta do carnaubal ao lado da casa dela. Desesperada, ela ia de casa em casa, pedindo ajuda, enquanto seu marido corria contra o tempo (e o vento) para tentar apagar as chamas. Estávamos prestes a enfrentar o nosso primeiro incêndio aqui em Barra Grande.

Nesse momento, via pessoas e mais pessoas correndo, com baldes, mangueiras e qualquer coisa que pudesse ajudar. Seu Carlos, um de nossos funcionários, saiu correndo em disparada para ajudar Nenê, o vizinho, a apagar o fogo, que se aproximava cada vez mais da casa dele. Uma rapidez na ação que me surpreendeu! Quando nos demos conta, todos os moradores dos arredores estavam no carnaubal, emendando mangueiras, utilizando a água da piscina de uma das casas, enfim, qualquer solução que aparecesse estava sendo utilizada. Parecia que todos já haviam passado por situação semelhante e que estavam preparados para enfrentar aquele fogo. Os bombeiros foram chamados, mas, pela distância, iam demorar muito a chegar e sem a ação da população, com certeza o estrago seria muito grande. E isso parecia estar evidente na cara das pessoas: o pânico e o medo que o fogo se alastrasse tomou conta de todos, que começaram a agir cada um da sua maneira, mas sempre ajudando um ao outro.

E o fogo era resistente. Com o vento, parecia impossível apagá-lo. As carnaúbas queimavam em suas copas e o fogo ia sendo dissipado pelo alto delas. Como a área ainda é muito nativa, há muitas árvores e mato, que a essa altura do campeonato já estava mais do que seco, depois de um longo período sem chuvas no litoral.

Pela primeira vez questionei se era mesmo a melhor opção ter feito os telhados em palha de carnaúba. Com o vento que soprava, o perigo maior era uma faísca chegar até a nossa pousada ou às outras construções próximas que também utilizam a palha nos telhados. Com uma mangueira, comecei a molhar a palha, tentando deixá-la úmida para evitar o pior. A mangueira não funcionava, soltava do cano e a pressão da água era pouca. Enquanto tentava molhar a palha, rezava pra mim mesma, pedindo que nada de ruim acontecesse. Foi quando Marco voltou do carnaubal e disse que a casa de uns italianos já estava pegando fogo no telhado. Felizmente o caseiro conseguiu apagar o fogo e apenas a palha queimou, deixando a casa (e as pessoas que ali estavam) salvas. Por sorte, mais nenhuma casa ou pousada foi atingida.

Depois de mais de duas horas, o fogo parecia ter cedido. Todos se acalmaram e voltaram para suas casas, já atrasados para o horário do almoço. Os bombeiros chegaram, somente olharam o trabalho que já havia sido feito e foram embora. Fomos olhar o tamanho do estrago e encontramos mais uns focos, que só com a ajuda de poucas pessoas já foi possível controlar.

Nunca tinha visto uma comoção popular tão grande em torno de um objetivo em comum: acabar com aquele fogo. Quando trabalhava como engenheira, isso era sempre um assunto em pauta nas reuniões de equipe do projeto: como fazer a equipe trabalhar em conjunto? Sempre foi difícil conseguir enganjar e inspirar todos a correr atrás de fazer a sua parte, em prol de entregar o projeto no prazo e na qualidade esperada pelo cliente. Ver isso acontecer em um grupo, sem gerentes ou líderes orientando tarefas e só com a consciência das pessoas em ajudar uns aos outros, foi muito bonito e inspirador!

A lição? Além de entender a gravidade de um incêndio na mata seca, ver que quando o objetivo é compartilhado por todos, fica muito mais fácil controlar a situação e prosperar, mesmo que sem orientação ou liderança. O que importa é a vontade em solucionar o problema e a cooperação.

Outra lição que aprendemos é com relação à segurança da pousada. Nos próximos dias, vamos instalar um sistema de água para molhar as palhas com mais facilidade e agilidade num caso extremo como esse.